quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Samsara instantâneo: desadquira o seu!

O que algumas pessoas chamam de hábito, vício, costume, eu vou chamar de Samsara intantâneo, já que é um ciclo que nos prende apenas neste momento.

Atentos a nós mesmos, podemos identificar alguns desses que povoam nosso território cronológico. Você conhece algum presente em você? Dedique-se a identificá-los e só: não tente superá-los, não tente estimulá-los, não tente ignorá-los. Não tente nada. Só observe. Ao tentar o que quer que seja, criamos um novo samsara instantâneo, o do afastar-se do que é para ser algo que não existe.

A matéria da vida, dos cinco agregados, é feita disso mesmos, dos cinco agregados. Afastando-se dela, o que se consegue? Embora ela não exista, é tudo o que conhecemos e temos. São as nossas ferramentas. Nosso trabalho é o zazen.

Abandonar ideais é ir sozinho para a floresta escura da experiência direta da realidade: sem segurança, sem seguro, sem livros, só com o que se percebe, pois é somente isso que vai nos levar a alguma outra margem. Livros são bons treinadores, indicam posturas, direções e catalisam insights, mas quem executa é a mente não-pensante. É plantar e abandonar. Imagine se cada dia abrissemos a terra para conferir se a semente virou planta, árvore? Ela morreria antes de produzir.

Convido a mim mesma, a você e a todos os que nos cercam a produzir antes de morrer. Mas é um convite, não uma jornada por algo. Como um convite, você simplesmente diz sim ou não e vai. Vamos conhecer o Facebook ou Orkut de nós mesmos e observar no perfil a força e realidade (ou fragilidade e ilusão) do nosso samsara instantâneo.

Gassho.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Somos livres para escolher, mas prisioneiros das consequências



Você só precisa ter forças para derrubar 1 dominó nos próximos 30 segundos. Escolha seu próximo dominó agora, e derrube-o.

Porque quando o primeiro dominó é derrubado, ele se encarrega de derrubar o segundo, que se encarrega de derrubar o terceiro, que se encarrega de derrubar o quarto, que se encarrega... de criar os resultados da sua vida. E, dentro de algum tempo, as pessoas olharão para você e sua vida e dirão: quanta sorte ele, ou ela tem, como é brilhante, veja suas realizações, deve haver algo de especial nessa pessoa.

Aqueles que te observam dirão isso de você, ou de seu departamento, ou de sua empresa, ou de sua família, ou de seu casamento (idealmente, de todas essas áreas), mas você sabe que tudo o que fez foi derrubar meia dúzia de dominós certos. Foram os dominós que fizeram o trabalho para você.

Basta escolher um dominó, uma decisão, por dia e as estatísticas começam a trabalhar para você. Escolha seu próximo dominó agora, e derrube-o.

Você decide começar a fumar. Uma decisão. Um dominó. Os dominós começam a derrubar outros e você já tem sua vida reduzida em 10 anos, suas chances de ter uma morte dolorosa disparam, você repelirá potenciais amores, seus dentes amarelarão.... e cada uma dessas ações provocará outras mudanças na vida. Claro que estou me prendendo aos números médios, não aos dominós imprevisíveis que sempre existem. Escolha seu próximo dominó agora, e derrube-o.

Você decide ler um livro sobre um assunto qualquer. Aqueles conhecimentos são vários dominós, que irão influenciar suas posições e decisões por muitos anos, que por sua vez derrubarão outros dominós... tornando você uma pessoa completamente diferente.

Você vai a uma palestra, troca um cartão, e isso pode influenciar a próxima década de vida. Você decide convidar seu filho para uma exposição, e a vida dele pode mudar para sempre. No momento em que você decidiu ler este texto, você derrubou um dominó. Cada edição que você lê, pode derrubar outros dominós, mas seu dominó mais importante foi a primeira decisão. Convidar outra pessoa, para ler este texto, é derrubar um dominó para ela. Escolha seu próximo dominó agora, e derrube-o.

Todas as pequenas decisões que você toma são dominós. Mesmo que imperceptíveis, no momento em que são tomadas, tais decisões ganham força imperiosa com o passar dos anos. Sem mágica, somente com matemática.

Por isso, empresas praticamente iguais em certo momento, se tornam diferentes no curso do tempo. Algumas falindo, outras crescendo. Por isso, pessoas praticamente iguais, quando crianças, se tornam adultos radicalmente diferentes. Por isso a vida das pessoas têm uma biografia tão variada. Escolha seu próximo dominó agora, e derrube-o.

Assistir um programa de televisão é derrubar um dominó. Não assistir, também é. Assinar uma revista é derrubar um dominó. Cancelar uma assinatura também é. Namorar, ou casar, com uma pessoa é derrubar um dominó. Não namorar, ou casar com ela, também é. Escolha seu próximo dominó agora, e derrube-o.

Torrar seu dinheiro em jogo, é um dominó. Resolver não gastá-lo assim, e pagar um curso, também é. Votar em um candidato é um dominó. Não votar nele, ou nela, também é um dominó.

Você não pode decidir o final de sua vida, mas pode decidir o começo. E o começo, não importa sua idade, é hoje, agora... nos próximos 30 segundos. Escolha seu próximo dominó agora, e derrube-o.

Aldo Novak

Fonte: pensandozen.blogspot.com

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Luto




Hoje declaro luto. Luto por tantos, luto por um.
Abaixo, um texto de um moderno Bodhisattva que bem poderia ter sido escrito por Xaquiamuni Buda.

Nada do que foi será de novo
do jeito que ja foi um dia.
Tudo passa, tudo sempre passará.
A vida vem em ondas como o mar:
num indo e vindo infinito.

Tudo o que se vê não é
Igual ao que a gente viu a um segundo.
Tudo muda o tempo todo no mundo.
Não adianta fugir nem mentir pra si mesmo.

Agora há tanta vida lá fora
Aqui dentro, sempre, como uma onda no mar.

O luto consegue ao mesmo tempo fazer bem e mal. Mal porque nada queremos que seja arrancado tão subitamente. Não há educação no mundo que ensine a efemeridade das coisas. Nem mesmo as mandalas. Nem mesmo a morte, por tantos anos presente.
Bem porque só sentimos o quanto somos autosuficientes quando a vida resolve varrer por si mesma aquilo que acreditávamos nossa fonte mais preciosa de vida. A vida vivifica mostrando-se a si mesma, sua fragilidade e sua força.

Essa coisa de só se muda após certa idade... balela! Mudamos sempre. A cada segundo somos outro e o mesmo. O mesmo homem não mergulha duas vezes no mesmo rio. O mesmo homem que inspira, não expira. E a cada segundo, somos menos. Cada instante, um pouco menos.

Tempo é mais rápido que uma flecha. Vida mais frágil que uma gota de orvalho. (Shushogi; texto tradicional budista).

Como uma onda no mar.

sábado, 5 de junho de 2010

Tudo é criado pela mente

Todas as coisas são precedidas pela mente, guiadas pela mente e criadas pela mente.

Tudo o que somos hoje é resultado do que temos pensado. O que pensamos hoje é o que seremos amanhã: nossa vida é uma criação da nossa mente.

- Dhammapada

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sem Problemas...

Um praticante Zen foi à Bankei e fez-lhe esta pergunta, aflito:
"Mestre, eu tenho um temperamento irascível. Sou às vezes muito agitado e agressivo e acabo criando discussões e ofendendo outras pessoas. Como posso curar isso?"
"Você tem algo muito estranho," replicou Bankei. "Deixe ver como é esse comportamento."
"Bem, eu não posso mostrá-lo exatamente agora, mestre," disse o outro, um pouco confuso.
"E quando você vai mostrar para mim?" perguntou Bankei.
"Não sei... é que isso sempre surge de forma inesperada," replicou o estudante.
"Então,"concluiu Bankei "essa coisa não faz parte de tua natureza verdadeira. Se assim fosse, você poderia mostrá-la sempre que desejasse. Quando você nasceu, não tinha, e seus pais não passaram para você. Portanto, saiba que ela não existe."

(Do livro 178 Contos Zen)

Sem mais questões

Ao encontrar um mestre Zen em um evento social, um psiquiatra decidiu colocar-lhe uma questão que sempre esteve em sua mente:
"Exatamente como você ajuda as pessoas?"
"Eu as alcanço naquele momento mais difícil, quando elas não têm mais nenhuma questão para perguntar", o mestre respondeu.

Mente pacificada

Finalmente, após muitos sofrimentos, Shang Kwang foi aceito por Bodhidharma como seu discípulo. O jovem então perguntou ao mestre:
"Eu não tenho paz de espírito. Gostaria de pedir, Senhor, que pacificasse minha mente."
"Ponha sua mente aqui na minha frente e eu a pacificarei." replicou Boddhidharma.
"Mas... é impossível que eu faça isso!" afirmou Shang Kwang.
"Então já pacifiquei sua mente." concluiu o sábio.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um tempo



O que veio antes: o presente ou o passado?

Ver as coisas como ela é



Quando a gente define, paramos de ver para buscar conceitos.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Autobiografia em cinco capítulos

Autobiografia em cinco capítulos

1. Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio...
Estou perdido... sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.

2. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.

3. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele ali está.
Ainda assim caio... é um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.

4. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.

5. Ando por outra rua.

(Extraído do livro "O Livro Tibetiano do Viver e do Morrer")

Silenciando...


"Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo silêncio é música em estado de gravidez." (Mia Couto)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Refletindo

Quando desrespeito os outros desrespeito Buddha. Quando desrespeito a mim mesmo desrespeito Buddha. Quando desrespeito os outros desrespeito a mim mesmo.

(João Joken)

Precisa de mais?

Confira: http://tentandonaofugir.blogspot.com

sábado, 30 de janeiro de 2010

Caminho



"Se você não vê o Caminho logo diante de você,
como poderia conhecê-lo enquanto caminha?"
Sekito Kisen (Sandokai)

As Quatro Nobres Verdades com Clareza


Prof. de Dharma Rodney Downey (do Zen coreano)
Tradução: Ricardo Sasaki & Rosana Lucas
Editor da palestra oral: Ricardo Sasaki
Gostaria de começar falando sobre alguns enganos que temos a respeito do Dharma do Buddha, os quais são muito comuns em todo o mundo ocidental, e mesmo no Oriente. A causa desses enganos tem a ver com palavras e com aquilo que elas significam.

Hoje, no café da manhã, eu comi bolo. E ontem eu aprendi que existe uma expressão em português: Quando você vai se encontrar com uma pessoa e ela não comparece, diz-se que você "ganhou um bolo". Imaginem que daqui a 500 anos, um arqueólogo encontre um diário de anotações de um brasileiro. Lá é dito: "Eu fui encontrar com Paulo e ganhei um bolo". O tradutor diria que eles comeram um bolo juntos! Esta é a armadilha das palavras, as quais têm um significado para uma época e cultura em particular. O mesmo se dá com alguns dos ensinamentos do Buddha.

Consideremos as Quatro Nobres Verdades, as quais estão no centro do ensinamento do Buddha. A tradução usual das Quatro Nobres Verdades é: "A vida é sofrimento; a causa do sofrimento é o desejo; a cessação do sofrimento é se ver livre do desejo; o modo de fazê-lo é o Caminho Óctuplo".

Isto está correto? De modo algum! Isto não é o que o Buddha falou. Este é o problema! Vamos começar com a Primeira Nobre Verdade, que é sempre traduzida como "A vida é sofrimento". Mas que coisa horrível! Veja a vida! É uma força excitante e de grande diversidade, de inacreditável deleite. Por que, então, é traduzido como a vida é sofrimento?

Vamos examinar a língua em que o Buddha falava. O Buddha disse, de fato, que a vida é dukkha. Esta palavra sempre é traduzida como sofrimento, mas isso não é de modo algum o que significa. A raiz de dukkha é duk, e significa "eixo". Veja a época do Buddha: A forma mais complexa de transporte era uma carroça; era uma carroça de madeira, como é na Índia ainda hoje, com um eixo de madeira unindo duas rodas também de madeira, e puxada por búfalos.

A palavra dukkha significava o eixo que está fora do prumo, que está fora de alinhamento. Imaginem o sofrimento de uma pessoa sentada nessa carroça, a força que os búfalos devem fazer e, ao invés da carroça seguir suavemente, ela está fora do eixo, desalinhada.

Então, Buddha fala sobre a vida - a vida de todos nós - usando o exemplo da carroça que tem seu eixo fora de alinhamento. Ele diz que nossas vidas estão fora de equilíbrio. E é esse desequilíbrio que leva ao sofrimento. Ele nunca disse que a vida é sofrimento. Este é um ponto muito importante. Nossas vidas estão fora de equilíbrio, ou, como os chineses falariam, não está fluindo junto com o Tao. Ambas as expressões significam a mesma coisa. Esta é a Primeira Nobre Verdade.

A Segunda Nobre Verdade se refere à razão da vida ser assim, e isso é geralmente traduzido como desejo. Mas nós teríamos uma vida muito estranha se não tivéssemos desejos. Não é o que o Buddha falou. A palavra que o Buddha usou foi trishna e significa 'sede'. Nas palavras do próprio Buddha isso foi descrito: "É como um homem vagando no deserto por muitos dias, sedento por água". Isso também é a sede do 'eu quero' e do 'eu não quero', e é por isto que todos nós sofremos.

O que é este 'eu quero' e 'eu não quero'? O que isso indica? Significa que não estamos satisfeitos com este momento, 'agora'. Porque se estivéssemos 'aqui' (Rodney bate no chão), não haveria 'querer' nem 'não querer'. Simplesmente haveria este momento, agora. O Buddha, utilizando-se deste exemplo, estava dizendo: "Esteja com este momento". O momento em que você quer ou não quer é o momento em que você deixa o agora, o momento presente, e aí, então, isso leva ao sofrimento.

Então, esse desequilíbrio que temos faz com que nunca estejamos no momento e, não estando no momento, isso leva ao sofrimento. É muito simples. Agora você pode examinar a sua própria vida a partir dessas palavras.

Mas o Buddha não parou por aí. Ele nos deu uma cura para este 'não estar no momento', este sofrimento. Esta cura é a Terceira Nobre Verdade, que é a verdade mais mal entendida de todas.

Ele fala do Nirvana ou Nibbana, que é uma palavra que é usada em todas as línguas nos dias de hoje, mas ninguém sabe o que significa. A palavra é muito simples. Significa expirar, apagar - como apagar uma vela. Muito simples! O Buddha apenas usava palavras simples, mas mesmo assim elas foram totalmente mal compreendidas, porque geralmente ela é traduzida como extinção do desejo. Correto? Não significa de modo algum isto.

No tempo do Buddha, a palavra nirvana, apagar, significava simplesmente isto: apagar. Mas havia uma grande diferença. De acordo com a ciência e a filosofia do Vedanta, quando você apaga uma chama, como em uma vela ou em uma lâmpada de óleo, você diz que a chama ficou livre. Quando você acende uma vela, você captura a chama, como se a colocasse numa gaiola. Então, em 'nossa' idéia de apagar uma vela nós dizemos 'extinguir' ou 'matar'; mas, na época do Buddha, apagar uma chama significava libertá-la. Da mesma forma como seu "bolo"; coisas completamente diferentes!

Então, o Buddha nunca disse algo como matar os seus desejos; ele falava da libertação ou liberdade deste apego ao 'eu quero' ou 'eu não quero'. Quando você abandona isso, então a sua vida entra num equilíbrio. Aí, então, você está completamente livre. Este é um ensinamento maravilhoso, porque ele é prático e você pode vê-lo em sua própria vida.

Se você sempre está no momento, você não pode sofrer, você está livre para ir para o próximo momento, livre para seguir para o próximo momento, sempre totalmente livre, sem estar preso no 'eu quero' ou 'eu não quero'. E é isso que o Buddha ensinava. Ele, então, nos deu o Caminho Óctuplo como uma forma de alcançar isso. Da mesma forma como as pessoas dizem hoje: "Como eu posso levar esta prática para a minha vida?", o Buddha nos deu a resposta. É o Caminho Óctuplo: A Compreensão Correta, o Pensamento Correto, a Linguagem Correta, a Ação Correta, os Meios de Vida Correto, o Esforço Correto, a Vigilância Correta, a Concentração Correta. Mas cuidado com a palavra 'correto', porque 'correto' implica que há um 'errado', e o Buddha não usava a palavra desta forma; o Buddha não falava desde um ponto de vista dualista.

Uma palavra melhor do que 'correto' é 'apropriado'. Linguagem Apropriada, Pensamento Apropriado, Compreensão Apropriada, etc. Vamos, então, apenas examinar um desses fatores, utilizando a palavra 'apropriada' ao invés de 'correta'. Linguagem Apropriada significa não falar mal de uma outra pessoa, não utilizar palavras para se mostrar, não utilizar palavras para sugerir algo que não é correto. Há muitos exemplos em suas vidas. Simplesmente falar demais é uma linguagem inapropriada. Podemos falar que ler demais também é uma linguagem inapropriada, ou ver televisão demais também seria linguagem inapropriada.

O que o Buddha quis fazer ao ensinar sobre essas várias ações não apropriadas foi nos dar um instrumento para examinarmos as nossas próprias vidas. O que significa 'apropriado' em termos de nossa vida? Significa Linguagem, Ação e Pensamento que nos ajudam a nos livrarmos de nosso desequilíbrio, de nosso dukkha.

O Caminho Óctuplo usado apropriadamente irá nos ajudar a colocar a nossa vida em equilíbrio. Isso não é algum ensinamento esotérico, nem aquilo que freqüentemente acontece no ensinamento mal compreendido sobre o que o Buddha ensinou.

As Quatro Nobres Verdades são muito práticas, baseadas na vida real. É um ensinamento sobre como viver a sua vida. E posso assegurar a vocês, que se lerem qualquer ensinamento do Buddha que parecer muito distante de sua vida agora, isso é uma tradução ruim. Porque o Buddha era um homem prático e inteligente, que olhava profundamente para o que fazemos conosco. A partir daí, ele nos ofereceu um modo de sair disso. Espero que isso que falei sobre as Quatro Nobres Verdades tenha lançado um pouco de luz. Muito obrigado!



(c) Edições Nalanda, 2002

O que é a iluminação


“A iluminação é ver com clareza o Aqui e Agora – nada mais do que isso – sem todas as falsas aparências ou sem todos os filtros que acompanham habitualmente os nossos processos mentais. É algo tão simples que leva a que a maioria das pessoas, no início da sua prática, alimentem a esperança inconsciente que seja algo mais. Mas milhares de anos de vida indicam que o que há de mais profundo ou fundamental é termos a experiência do universo, agora mesmo, tal qual ele realmente é, em vez de sermos levados pelo que o nosso pensamento, ávido e discriminativo, espera ou teme que seja o universo.

A iluminação nada tem a ver com obter algo, mas em renunciar ao apego aos nossos diálogos e “guiões” interiores, às nossas conceitualizações, vícios mentais, amores, ódios, à ideia do nosso 'eu' separado da totalidade da existência. A iluminação não implica que não aconteçam coisas ruins. Mesmo que se alcance a iluminação e o corpo e a mente acabem por se fundir, há ainda que continuar a deixar fora o lixo e a lavar a louça. “

Do artigo “Fundamentos da meditação Zen”

Os olhos


O problema começa quando, ao nascermos, abrimos os olhos pela primeira vez e vemos o mundo: desde então, passamos a buscar as bases da nossa felicidade e as causas do nosso sofrimento do lado de fora.

E não é lá que estão; não é de lá que vêm, vieram ou virão.

Nada é independente

Nada é independente.
Nada é independente.
Nada é independente.
Nada é independente.
Nada é independente.
Nada é independente.
Nada é independente.
Nada é independente.
Nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada é independente.

(Desculpe pelas repetições).

Nada é independente, ou "nada" é independente?

Por João Joken

As partes e o Todo

Nota de observação: O texto a seguir, bem como demais textos desse blog, corresponde somente ao entendimento atual do autor. Esse entendimento não é definitivo e absoluto, sendo pelo contrário, relativo, e podendo ser alterado com o tempo. Dessa forma, qualquer coisa aqui escrita não deve ser tomada como certa ou como verdade por ninguém.


- Você e eu, como seres sencientes, experenciamos, nesse exato momento, uma parte da Totalidade-das-Experiências-Experenciáveis-pelos-Seres-Sencientes.

- Uma experiência inclui/exclui todas as outras (pois na experiência do gosto da laranja está implícita a não-experiência do gosto da maçã, experiência que inclusive poderia ser simultânea).

- Aquilo que eu sou nesse exato momento é indiscernível da experiência desse exato momento.

- Assim os seres sencientes são tão inúmeráveis quanto as diferentes variações de experiências que existem, e são indistintos delas.

- Portanto a Totalidade-das-Experiências-Experenciáveis-pelos-Seres-Sencientes não é senão o próprio conjunto de Seres Sencientes.

- Quem disse que "este ser" é separado da Totalidade-das-Experiências-Experenciáveis-pelos-Seres-Sencientes?

- Assim, quem disse que "este ser" é separado dos demais Seres Sencientes?

- Mesmo que a minha experiência desse exato momento seja parcialmente diferente da sua experiência nesse exato momento, a minha experiência somada à minha não-experiência é indiscernível da sua experiência somada à sua não-experiência.

- Essa experiência somada à não-experiência a cada momento corresponde exatamente à própria Totalidade-das-Experiências-Experenciáveis-pelos-Seres-Sencientes.

- Assim, não seria absurdo alguém momentaneamente perceber, ao experimentar um doce, que todos os seres do mundo experimentam o doce com ele. Isso porém necessitaria que esse alguém momentaneamente esquecesse de ser alguém separado, que esquecesse de si mesmo.

- Portanto também não seria absurdo dizer que quando alguém senta em zazen, todos os seres do mundo sentam em zazen com ele. E a experiência de "apenas sentar" é indiscernível da prática de Buddha, sendo portanto indiscernível do próprio Buddha e da própria Iluminação.

(João Joken)

Nuvens em movimento

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